terça-feira, 11 de agosto de 2009

XIXI NA CAMA (Valéria Nogueira Eik)

Carolina tem quatro anos. É um doce de criaturinha!
Os olhos são amendoados e castanhos. Os cabelos, lisos e fartos, emolduram a sua carinha levada. E a pele tem um tom moreno distribuído por igual.
Corre e brinca o dia todo.
Mas quando a noite chega, traz consigo, além da lua e das estrelas, um pequeno problema: o xixi na cama, que molha desde o pijaminha até o colchão.
Carolina morre de vergonha.
Gostaria, ela mesma, de trocar os lençóis, e no dia seguinte, antes que todos se levantassem, lavar a roupa de cama e o pijama.
Mas é apenas uma menininha. E tem medo. Ah, o medo! Mostra bicho papão, saci e curupira. Mostra tudo o que não existe. E a noite fica cheia de monstros umedecidos pelo xixi da Carolina.
Às vezes, dorme na cama molhada mesmo. E quando vence a vergonha e o medo chama a mãe.
Lá vem Dona Margarida, cheia de sono e paciência, fingindo nem ter percebido a cachoeira amarelinha que quase inunda o quarto.
Leva Carolina ao banheiro para um derradeiro xixi e um banho morno e rápido, e em seguida, troca o pijaminha e toda a roupa de cama.
No dia seguinte, Carolina sente dificuldade para encarar a mamãe.
Dona Margarida anda pensativa, pois quer encontrar um jeito de ajudar a filha. E tem uma idéia.
Compra cartolina e recorta estrelas. Algumas são douradas e outras são prateadas.
Chama Carolina e lhe mostra as estrelas. A menina fica encantada. Até parece nunca ter visto coisa tão linda!
- Mamãe, posso ficar com elas?
- Minha filha, essas estrelas são muito especiais.
- Por que?
- Olhe bem para elas! Veja como são bonitas!
- São “maravilindas”, mamãe!
- Para cada noite que você não fizer xixi na cama, uma dessas estrelas prateadas será sua. E após uma semana de noites sequinhas, você receberá uma estrela dourada. Quer tentar?
- Vou conseguir todas as estrelas, mamãe. Você me ajuda?
- Claro, querida.
Carolina estava preocupada quando a noite retornou.
Queria porque queria ganhar todas as estrelas.
Será que conseguiria amanhecer sequinha, sem fazer xixi na cama?
Pois muito bem. Na hora de dormir, fez um xixi enorme no banheiro. E em suas orações, pediu ao Papai do Céu que fechasse a sua torneirinha durante a noite toda.
Dormiu. Mas acordou sobressaltada algumas vezes. Passava a mãozinha na cama e suspirava aliviada.
- Ufa! Até aqui, tudo certo.
Quando o dia entrou pelas frestas da janela, Carolina gritou de alegria. Não tinha feito nenhum pingo de xixi na cama.
- Manhê! Manhê! Cadê a minha estrela? Cadê?
Dona Margarida abraçou a filha e disse:
- Parabéns, meu amor, você conseguiu! Aqui está a sua primeira estrela prateada.
Depois de uma semana, Carolina recebeu a sua primeira estrela dourada. E de estrela em estrela, ela venceu a dificuldade.
A partir das estrelas, ela compreendeu que a vitória é construída passo a passo, com muita vontade e determinação.



Valéria Nogueira Eik


Fotografias, histórias infantis, crônicas, poemas e contos publicados em vários sites literários.


Editora da revista de literatura e arte Conexão Maringá http://www.conexaomaringa.com


E-mail: contato@conexaomaringa.com


VÔO DE PAPEL (Francisco Simões)


Solta a tua alegria
Feliz e vadia no ar,
Faz flutuar no espaço,
Rompendo o mormaço
Com teu braço gigante
De linha ou barbante
Tua asa, teu céu,
Teu vôo de papel.

Rege com as mãos o bailado
Aéreo dançado,
Teus sonhos cruzando
Com sonhos rivais,
Buscando tais quais
A mesma vitória
E ter uma estória
Para depois contar.

Guarda na tua alegria
Feliz e vadia, menino,
Teus sonhos bem pequeninos
Para poderes crescer e sonhar.
Nas tantas batalhas perdidas,
Nas muitas linhas partidas
Foge sempre um pouco da gente.
Estes sonhos não vão voltar.

(Dezembro/1999)

(Este poema ganhou o primeiro lugar no Concurso Literário dos sites “Sociedade dos poetas” e “Mural Livre”.)


Francisco Simões

Escritor, poeta, fotógrafo (expositor), ex-radialista.
Rio de Janeiro
E-mail: fm.simoes@terra.com.br
http://www.franciscosimoes.com.br
http://www.riototal.com.br/expressao-poetica/francisco_simoes.htm

Carolina Trovão, seu colar de corais e o raiozinho de sol (Vicência Jaguaribe)

(Uma história para a Carolina Trovão).


Colar de Carolina

Com seu colar de coral,Carolina corre por entre as colunasda colina.

O colar de Carolinacolore o colo de cal,torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cordo colar de Carolina, põe coroas de coral

nas colunas da colina.

(Cecília Meireles)


- Carolina, corra aqui, me ajude com esta bacia!
E a Carolina acionava as asinhas de seus pés, feito Hermes, o mensageiro dos deuses, e voava para ajudar a mamãe. A bacia estava cheia de roupa lavada para estender no quintal.
- Carolina, onde estão os meus óculos? Preciso ler o jornal e não os encontro!
E a Carolina abria bem seus olhos de lince e achava os óculos do vovô, que fazia um ar de felicidade ao abrir o jornal.
- Carolina! Carolina! Me ajude a pentear os cabelos, que já estou atrasada para a missa!
E a Carolina, com suas mãozinhas de fada, fazia um coque no cabelo da vovó e o prendia com um pente de madrepérola. E a vovó ia bonita e feliz rezar pela família.
- Carolina, leve a Silvinha para passear na colina!
E a Carolina punha seu colar de coral e levava a irmãzinha para passear na colina. E a Carolina ficava mais bonita com os corais do colar colorindo seu colo de cal.
A Carolina, segurando na mão da irmãzinha, apostava corrida com a própria sombra, que às vezes se escondia nas colunas da colina.
A Carolina Trovão era assim: em casa era pau para toda obra. Os adultos nunca a deixavam em paz, e a Carolina ajudava todo mundo. E era um tal de gritar, chamando a Carolina – Carolina, isso; Carolina, aquilo; Carolina, aquilo outro!
E a Carolina Trovão não era Trovão só no sobrenome, não! A Carolina parecia ser o resultado de uma descarga elétrica, que a fazia correr em vez de andar; que lhe conservava em alerta todos os sentidos – seus olhos viam mais; seus ouvidos ouviam mais; seu nariz cheirava mais; sua boca sentia mais gosto e suas mãos tinham mais sensibilidade do que... os olhos, os ouvidos, o nariz, a boca e as mãos das outras crianças e também dos adultos.
Mas a Carolina Trovão era, principalmente ruidosa – falava alto, ria alto, cantava alto e não deixava que ninguém ficasse triste ou desconsolado perto dela. E, sempre que podia, gostava de brincar com gente, com bicho, com coisas e, principalmente, com os elementos da natureza.
Naquele dia, na colina, com a Silvinha, ela percebeu que um raiozinho de sol insistia em tocar nos corais de seu colar. Ela, então, resolveu brincar de esconde-esconde de corais com ele.
Primeiro, puxou seus longos e lisos cabelos ruivos para a frente e escondeu os corais do colar. Mas o vento, amigo do raiozinho de sol, mandou uma rajada, que levantou a bela cabeleira da Carolina, deixando à mostra os corais do seu colar. E o raiozinho de sol caiu diretamente sobre eles.
Depois, ela levantou a gola da blusa de modo a fazer a fazenda cobrir os belos corais do colar. Um raio de sol mais forte do que o raiozinho brincador virou-se diretamente para a Carolina. Ela sentiu tanto calor, que o jeito foi abrir os primeiros botões da blusa e deixar à mostra os lindos corais de seu colar. E o raiozinho de sol refletiu diretamente sobre eles.
Por último, ela tentou proteger-se pelas sombras das colunas da colina, mas o sol mudou de posição, e as sombras foram para o outro lado da colina. Ela ficou, assim, cara a cara com o raiozinho de sol, que se lançou todinho sobre os corais de seu belo colar. E as duas meninas – a Carolina e a Silvinha – viram um espetáculo lindo, que elas nunca tinham visto nem no cinema: os reflexos dos corais do colar da Carolina enfeitaram de coroas de coral as colunas da colina.



Vicência Maria Freitas Jaguaribe

Natural de Jaguaruana-Ce
Professora de Literatura e Estilística da Universidade Estadual do Ceará.
Mestra em Literatura pela UFC.
Trabalhos publicados nas áreas de Literatura, Estilística e Lingüística do Texto.

E-mail: vmjaguaribe@netbandalarga.com.br

Bicho-de-goiaba (Odete Ronchi Baltazar)


Fui comer uma goiba,


- que delícia!


madurinha...


Mas com essa eu não contava,


- oh que pena!


é que tivesse,


lá no meio,


uma feia minhoquinha.


ARG! eu não como essa coisa - tão feiosa e pequeninha.


Já pensou?


- esse bicho esquisito vai parar


lá na minha barriguinha?



Odete Ronchi Baltazar, ou odeteronchibaltazar como é conhecida na internet, nasceu em Rio Maina, Município de Criciúma, Estado de Santa Catarina em 1953. Atualmente reside em Florianópolis.É formada em Língua Portuguesa, com especialização em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina.Publica seus trabalhos em sites, blogs, e-books e Antologias que saíram do virtual e foram para o mundo real.- Publicou o livro solo "Só Poesia" em maio de 2006, pela Editora da AVBL. Tem participações em Antologias, tais como:- DiVersos, Ed Scortecci, 2002- Com licença da Palavra, Ed. Scortecci, 2003 - 1ª Antologia Poética AVBL, Ed da AVBL, 2004 - Virtualismo, Ed AVBL, 2005- uniVERSOS, gráfica e Ed Ivan, 2005- 2ª Antologia Poética- Literária AVBL, Ed da AVBL, 2006- 3ª Antologia Poética- Literária AVBL, Ed da AVBL, 2008- 4ª Antologia Poética- Literária AVBL, Ed da AVBL, 2008.


Seus sites pessoais:


MELECA (Lilian Maial)


Ela rola e ela dança,
Dá cambalhota risonha,
Pára num canto e descansa,
E nos faz passar vergonha.
Quando se mostra pro mundo,
Vem gargalhada no fundo,
Dessa cara de pamonha.

A vida tem desses lances:
Hora de rir e chorar.
Tem hora até pros romances,
Tem hora até pra estudar!
Mais chata é a hora do banho,
Se eu não tomar, eu apanho,
Depois, quem quer acabar?

Começa a lavar criança!
Lava o pé e a sobrancelha,
Lava o sovaco e a pança,
Lava bumbum e a orelha.
Não esquece da careca,
Lava o sapo e a perereca,
Assim mamãe aconselha.

Quando eu acabo e me seco,
Vou pingando pro meu quarto,
Mamãe quase tem um treco,
Dia desses tem um infarto,
Leva todo a roupa suja,
Me penteia de lambuja,
Seu beijinho eu não descarto.

E assim, limpo e cheiroso,
Parecendo uma boneca,
Vou pra rua até o almoço,
Brincar levado da breca.
Até virar gozação,
Da turma do quarteirão,
Por causa dessa meleca!

Volto sujo e fedorento,
Algo triste e aporrinhado,
Suado, nariz escorrendo,
Dos amigos, afastado.
Olham pra mim, dizem: - Eca!
Mas da gostosa meleca,
Não vou ficar separado!



Lilian Maial

E-mail: lilian.maial@gmail.com

Carioca, médica, escritora e poeta. Publicou um livro de poemas em 2000 – “Enfim, renasci!”, e tem participação em dezenas de antologias desde 1999. Autora premiada de diversos concursos de poemas, de contos e crônicas dentro e fora da internet, além de articulista de algumas revistas eletrônicas e listas de discussão. Integrante ativa do MIP (Movimento Internacional Poetrix), da qual é Coordenadora Regional no Rio de Janeiro, teve seus poetrix publicados, em 2002, na “Antologia Poetrix”, e em 2007, na “Antologia Poetrix II”, além de ter organizado um e-book com poetrix de 10
10 participantes do MIP. Filiada à REBRA (Rede de Escritoras Brasileiras), já participou de 4 antologias lançadas pela REBRA, através da Editora Scortecci, de 2002 a 2006, com lançamentos nas Bienais do Livro de São Paulo. Filiada à APPERJ (Associação de Poetas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro). Consulesa do Rio de Janeiro para o movimento Poetas Del Mundo. Tem seus trabalhos divulgados em inúmeros sítios nacionais e internacionais, é colaboradora de revistas eletrônicas em vários Estados do Brasil (“Click Negócios”, “Jornal ECOS” – de Vânia Moreira Diniz, “Portal Blocos” – de Leila Miccolis, “Momento Lítero Cultural” - de Selmo Vasconcellos, “Portal Maytê” – de Maria Tereza Albani, “SOBRAMES” - Sociedade de Médicos Escritores, “Jornal Varginha On Line”), assim como em Portugal (“Cá Estamos Nós”), e em língua espanhola (“Islas Negras”).

Por causa de uns 5 anos (Miriam Carrilho)



(Para a minha neta Gabriela)



Gabriella, Bibi, bela,

na janela, nela, ela,

não me viu.



Viu, viu? Vai brincar, sua sapeca,

vai brincar, minha boneca,

vai nadar lá na piscina.



Vai, menina,

vai correr a mais de mil.

Mas por favor, venha me ver,

me abraçar e me beijar:

amo você.



Um dois, três, quatro,

quero, quero o seu retrato

eu quero mais, e sempre mais,

quero você.



Com seu riso,

seu olhar,

seu bem-querer,

seu dizer de improviso

o que vem do coração

que por sorte, não tem freio

(ainda bem) nem aperreio:

já lhe basta a emoção.



Mas agora eu não brinco - acredita?

Vou cantar a nova idade

da criança mais bonita

que completa hoje cinco

doces anos de amor, felicidade.



Seu viver todo inteirinho

com saúde e alegria,

muita luz em seu caminho

muita paz e harmonia.



Isso é tudo o que desejo

e lhe entrego com um beijo.



Miriam Monte Carrilho de Oliveira




Nasci em Natal / RN, no mês de maio de 1947. Pelo menos é isso o que está registrado na minha identidade. Estudei interna, como era costume na época. Mal saí, casei, Muito nova, dois filhos, descasei. Airosa, arranjei outro, ousei, floresci mais duas. Por hoje, cinco netos, meus xodós. E quero mais. Cursei Administração na UFRN porque apareceu um belo estágio no Banco do Nordeste. Jornalismo na UNICAP movida pelo insano e inocente desejo da verdade acima de qualquer suspeita. Minha incursão no ramo se deu por uma entrevista a um escritor famoso, não aceita por nenhum jornal daqui. A Tribuna da Imprensa de Hélio Fernandes, lá no Rio, publicou-a na íntegra. Folhas Esparsas, com poemas de épocas e temas diversos, um sonho que se fez. Desenhar e pintar, outras manias acalentadas. Meu trabalho é ser livreira, embora como funcionária pública e privada tenha gasto um bocado do meu juízo. Leio, sim, sempre, embora o tempo não dê pra “devorar” tudo o que quero. Sou geminiana inquieta, insatisfeita com o mundo que me cerca, sempre a desejar mais e mais, com uma vontade tola, safada, insistente, de ver o mundo e seus habitantes mais felizes. Pretensão? Talvez. Mas um poeta pernambucano falou que “uma cidade se faz com o sonho dos homens”.
Por que não fazer um mundo com o sonho das mulheres?