sábado, 18 de julho de 2009

MANIAS DA MARIANA (Valéria Nogueira Eik)

Mariana trançava tudo.
Trançava os cabelos, os braços e os passos.
Sonhava poder trançar os cílios, mas assim seria um exagero.
Fazia tranças nos rabos dos cavalos.
Trançava até o mato quando andava pela fazenda.
A mãe ralhava, mas Mariana dava de ombros e revirava os olhos.
O mundo era mais bonito quando estava trançado.
- Mariana! Vem almoçar!
E lá vinha ela, trançando os passos, pulando espaços, estragando os sapatos.
Sentada à mesa, que surpresa! Macarrão!
Pegava três fios de massa, trançava e comia.
- Mariana! Come direito, minha filha!
Ela disfarçava e juntava mais três fios de massa.
- Mariana, pelo amor de Deus!
- Eu estou comendo direitinho, mamãe.
- Joaquim! Me ajuda aqui com essa menina!
- Ah, Maria! Deixa a Mariana trançar o macarrão.
Com a aprovação do pai as tranças ficaram cada vez mais numerosas.
Ao invés de fazer uma trança nos cabelos das bonecas, ela fazia duas, três, quatro e até dez.
Os cavalos ficavam impacientes e bufavam diante dos penteados cheios de tranças e laços em seus rabos.
E os empregados da fazenda andavam reclamando:
- Seu Joaquim! Assim não dá! A gente chega na cidade e a molecada vem correndo e caçoando.
Mas seu Joaquim apenas ria da mania da filha e dava de ombros.
Uma vez Mariana viu três minhoquinhas e as pobres criaturas viraram trança. E alguns dias se passaram até que elas conseguissem se soltar.
De outra vez, ela juntou três nuvens que estavam pouco acima do morro, trançou tudo, e pouco tempo depois despencou uma tremenda tempestade.
Num belo dia, e nem se sabe se era belo ou não, ela trançou as idéias, e de uma hora para outra deixou de gostar das tranças.
- Milagre, minha Virgem Maria! Milagre! Joaquim! A Mariana não gosta mais de tranças. As minhas preces foram ouvidas!
Maria foi dormir feliz.
Joaquim ficou ressabiado.
E o dia amanheceu normal.
- Mariana! Vem tomar o café da manhã!
A mãe escutou um apito agudo, desses que quase chegam a quebrar as vidraças.
Olhou assustada para o marido, sem saber se queria ou não uma resposta.
- Eu não sei de nada, mulher! Nada! Nada!
- Oh, meu Deus! O que será que vem por aí?


Valéria Nogueira Eik

Fotografias, histórias infantis, crônicas, poemas e contos publicados em vários sites literários. Editora da revista de literatura e arte Conexão Maringá
http://www.conexaomaringa.com/
Blog (Mosaico):
http://valeriaeik.blogspot.com/

5 comentários:

  1. Adorável. Acho infantil difícil de escrever, portanto me rendo geral a quem o faz com tanta propriedade. Beijo/ rosa

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  2. Demorou, mas apareci. Gostei demais deste seu outro lado neste seu outro blog. Vejo que a sua sensibilidade alcança outras e insuspeitas esferas. Parabéns, Valéria. Um abraço!

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  3. Muito legal, Valéria, teu espaço e este texto. Fiquei imaginando as tranças pelo caminho...

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  4. Valéria,é incontestável o aspecto lúdico das tranças da Mariana, como o de qualquer outra mania na ficção e na realidade. E você soube trabalhar a ludicidade sem exagero, sem transformá-la em comédia. Parabéns pelo desfecho (ou falta de). Eu diria, tecnicamente falando, ser esse o aspecto mais positivo do conto. Vicência Jaguaribe

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  5. Amei essa menina trançadeira! Bom passar por aqui e conhecer trabalhos legais voltados para o público infantil. Parabéns pelo espaço!

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